Militante do movimento negro, a jovem aprendiz Tainara Cerqueira, 20 anos, já chegou a escutar ofensas racistas de recrutadores em entrevistas de emprego. Para que isso não aconteça com outros jovens, ela acredita que as empresas precisam “rever conceitos para desconstruir visões”.
Moradora do Parque Santa Maria, em Fortaleza, Tainara é atualmente jovem aprendiz do IDESQ, em parceria com o projeto Primeiro Passo do Governo do Estado, e trabalha na Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Passageiros do Estado do Ceará (Cootraps), seu primeiro emprego.
No Mês das Pretas, Tainara é a nossa entrevistada e ela fala sobre identidade, padrão de beleza, racismo e mudanças que deseja no mercado de trabalho. Confira a entrevista:
Diversos estudos comprovam que a população negra tem menos acesso a empregos formais e, quando conseguem um trabalho formal, ganham menos que os brancos. Antes de ser jovem aprendiz, você sentiu dificuldades para encontrar um emprego formal?
Sim, além da falta de experiência no mercado de trabalho, a aparência também foi uma barreira. Já chegaram a falar durante a entrevista que eu não fazia o perfil da empresa e que eles tinham uma imagem a zelar.
Como você acha que as empresas devem começar a se comportar para diminuir essa diferença, em prol da igualdade?
Rever seus conceitos para desconstruir visões racistas, além de ampliação de vagas para diversidade racial e desenvolver uma conduta mais consciente, respeitando o próximo independentemente da cor da sua pele.
Quando você se reconheceu como mulher negra?
Quando eu decidi parar de tentar ser alguém que eu não era apenas para me encaixar nos padrões de beleza da sociedade. Não foi fácil, mas percebi que não podia passar a minha vida inteira escondendo minha verdadeira identidade por medo de comentários racistas.
Já passou por alguma situação de racismo que você se sinta confortável em nos falar?
Sim, durante a infância eu ouvia bastante comentários sobre como o meu cabelo era feio, “ruim” e “bombril”. Passei toda a minha adolescência alisando o meu cabelo apenas para ter a aprovação dos outros e elevar minha autoestima.
Para você, por qual motivo é tão difícil a população branca reconhecer seus privilégios?
Acredito que para se verem livres da responsabilidade de lutar contra o racismo e se reconhecerem como opressoras. O branco não precisa se preocupar se ao entrar em um estabelecimento será seguido pelo segurança por suspeita de que irá furtar alguma coisa ou se preocupar se a cor da sua pele ou o seu cabelo vão interferir na hora de conseguir um emprego. São situações simples, mas que ainda são barreiras para os pretos.
Como você acha que as pessoas podem fortalecer a luta das mulheres negras?
Conhecendo mais sobre a nossa história, o nosso movimento e a nossa luta. Apoiar o trabalho de artistas pretas, seja por meio da música, do cinema ou da escrita, e que mais cargos importantes no meio da política e no mercado de trabalho sejam ocupados por nós, para nossas vozes serem ouvidas e inspirarem outras mulheres.
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Gostei muito parabéns que orgulho de você Tainara, muito importante ter essa consciência negra.