O jovem aprendiz Aridênio Dayvid, de apenas 20 anos, passou em Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC), campus de Sobral. Mas, antes desse resultado, ele já havia passado também na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba, onde chegou a cursar um semestre incompleto.
Na última semana, o jovem recebeu o certificado de conclusão do curso de Aprendizado em cerimônia em Limoeiro do Norte. Ele foi aprendiz do Projeto Primeiro Passo, uma parceria do Governo do Estado com o IDESQ, nos anos de 2020 e 2021.
Aridênio agora se prepara para uma nova vida, com muitos desafios: escolheu a UFC, mudou de cidade e iniciou a vida universitária em um curso que exige muita dedicação. A escolha por Medicina passou pela vivência como paciente. “As experiências que tive enquanto paciente e familiar me levaram a medicina, para ser um profissional melhor do que aqueles que atenderam a mim e a quem amo. Minha avó teve câncer e não foi bem tratada o que me motivou a buscar ser diferente com outras pessoas”, destaca.
Política de cotas
Autodeclarado negro pardo, Aridênio passou no vestibular como cotista, política pública brasileira que tem como objetivo eliminar as desigualdades sociais e econômicas que foram acumuladas ao longo da história.
“As cotas são de fundamental importância para a gente, de escola pública, negros, principalmente. Não temos como concorrer com alunos de escola particular, porque a gente vem de um ensino deficitário. Por exemplo, já cheguei a ter poucas aulas no ano letivo por conta de greve no município. Apesar do esforço dos professores, a gente não tem uma preparação tão boa quanto deveria para o Enem. Não é tão fácil como pode parecer para alguns. Ainda temos muitas coisas para superar”.
Apesar de todas as dificuldades no Ensino Público, Aridênio contou com uma rede de professores que faziam de tudo para ajudá-lo a alcançar a aprovação.
“Eu tive a sorte porque encontrei muitas pessoas que me ajudaram, principalmente na escola que eu estudei, na E. E. M. Lauro Rebouças de Oliveira. Muitos professores respondiam minhas dúvidas tarde da noite já. Se não fossem as cotas a gente realmente não tinha chance de chegar lá e conseguir o diploma”, afirma.
Experiência como aprendiz
Aridênio participou da seleção para ser aprendiz após a divulgação do projeto por parte da Secretaria de Assistência Social de Limoeiro do Norte (Semas). O jovem já tinha escutado pontos positivos sobre o programa por parte de familiares.
“Minha experiência no Primeiro Passo foi muito boa, toda a equipe era muito acolhedora. Aprendi muito sobre o mercado de trabalho e as relações sociais. Tive experiências muito boas e firmei laços que mantenho até hoje”, afirma.
Ele passou a trabalhar na R C Freitas Administradora de Planos Funerários, Afagu, como auxiliar administrativo, cuidando do estoque, do arquivo e de outras demandas. Com o trabalho, Aridênio passou também a ajudar financeiramente dentro de casa.
“O Primeiro Passo foi minha maior fonte de renda nos últimos anos. Com o dinheiro, comprava livros, cadernos, pagava algumas das contas de casa, como água, energia e internet. Também fazia umas compras no mercado e ainda investi em uma impressora para impressão dos materiais da faculdade”, conta o jovem.
Rotina de estudos
Para passar em Medicina, Aridênio tinha uma rotina muito dedicada, com horário para estudo, para trabalho e para outras atividades. O equilíbrio mental, por exemplo, sempre foi um ponto importante para o jovem para alcançar os objetivos.
“Fazia o que podia, da melhor forma que era possível sem me forçar e no meu tempo. Me organizando ao máximo e cuidando da minha saúde mental. A organização e a fé foram a chave”, comenta.
Ele trabalhava de manhã e estudava durante as tardes. Contava com plataformas online para o aprendizado. “Mas eu também acordava cedo e estudava antes de ir para o trabalho. A noite ensaiava na banda de música do município, onde tacava saxofone”, detalha.
Quando passou em Medicina, o jovem sentiu “alívio e alegria”, mas também “medo da trajetória”, sentimento natural de quem inicia um novo ciclo. Nos últimos dias, tem convivido com o carinho da família, amigos e professores, cujas reações foram significativas.
“A reação mais marcante foi do meu avô que chorou sempre nas primeiras vezes que ia contar aos amigos. Ele sempre me apoiou mesmo não tendo estudado nem o fundamental. Minha mãe foi mais contida, mas ficou muito orgulhosa. Meus professores sempre me apoiaram e se emocionaram muito com a aprovação, eles são muito importantes para mim, família”, afirma.
1 Comment
Parabéns Aridenio, ficamos muito feliz de sabermos da sua trajetória, historias assim precisam ser contadas a todo instante para podermos mudar contextos de muitas pessoas e fazermos com que pessoas acreditem em seus sonhos e ideais. Parabéns desejo muito sucesso e continuem sempre lutando por cada objetivo pois você só terá crescimento.